Publicidade

Encontro, ou match, com o qual uma agremiação desportiva do Rio de Janeiro ousava fazer acorrer a um campo de futebol (as vezes denominado field, outras ground) associados e torcedores para terem oportunidade de assistir a um jogo disputado à luz de lâmpadas, deu-lhe a imprensa a divulgação merecida.

E novamente voltando a O Imparcial, cujas credenciais já foram acentuadas, eis como em suas páginas, na edição de 7 de setembro, os leitores tomaram conhecimento do ocorrido:

"Sabbado passado teve logar no field do Villa Izabel a inauguração do football nocturno, que, digamos de passagem, não pode absolutamente ter o mesmo brilhantismo que o praticado sob os causticantes raios solares. Á noite, quem quizer obter uma certa vantagem, não tem mais do que impulsionar a esphera de grande distancia e com violento shoot, sobre as barras antagonistas, que não podem inteiramente contar com a prompta defesa de quem lhes guarda. O Villa Izabel derrotou o scratch campista com relativa facilidade, pelo significativo score de 4x0. A concorrencia era regular, sendo notada a presença de graciosas demoiselles que maior encanto emprestaram ao festival sportivo.

Os teans adversarios obedeceram as seguintes constituições:

Villa Izabel - Heitor; Flores e Rocco; Plaisant II, Carvalhosa e Villas Boas; Amaral, Moreira, Décio, Edgard e Plaisant I.

Scratch Campista - Migiano; Santos e Cretello; Luiz, Nelson e Rocini; Mario, Heitor, José, Campos e Barreto.

Os rapazes campistas, talvez devido a longa viagem a que se entregaram, não nos apresentaram um jogo promettedor. A linha de ataque é precipitada, sendo bastante prejudicada pelos extremas, notadamente a esquerda, que abusa demasiadamente do tão condemnado jogo de driblings. Barreto tem, de facto, esta reprovavel mania. Os halfs deslocam-se constantemente, de modo que os out-sides antagonistas centram a la volonté. Nelson é a figura de destaque do team campista; elle, Cretello, Santos e Migiano jogaram por todos.

No segundo half-time os visitantes foram completamente assediados pelos fowards do Villa Izabel, que muito jogaram, notadamente Amaral, que, felizmente, vae melhorando. Heitor só teve ocasião de pegar um shoot.

Hoje, os nossos hospedes bater-se-ão a tarde, com o team do Villa Izabel, que, desta vez vae ter a certeza de que em certas ocasiões, os ardores solares são preferíveis á doçura poética do plenilunio.

A lua não protegeu aos commandados do nosso collega Julio Nogueira; vamos ver se o sol lhes é mais agradavel. Esperemos". O resultado do segundo jogo, este no dia 7 de setembro, no entanto, não foi fornecido, sabendo-se, apenas, que voltou a ser à noite e que os cariocas levaram vantagem de novo.

Em sua edição do dia 28 de junho de 1975, portanto poucos anos atrás, o jornal A Notícia abria manchete, em sua página de esportes, para dizer que "Time do povo mostra porque foi campeão. E quase fatura o Porto". O time do povo, no caso, sendo o Goytacaz, que, como campeão da VIII Taça Cidade de Campos, jogou e empatou, na véspera, de 1x1 com o Porto, de Portugal, no Estádio Ari de Oliveira e Souza.

Para Américo Sá, chefe da delegação portuguesa, o Goytacaz apresentou um futebol muito mais agradável e competitivo que a Seleção Paulista, o Vasco da Gama e o Sport Recife, contra os quais o Porto havia jogado antes de se exibir em Campos.

Em sua página esportiva o jornal A Notícia descrevia o jogo desta maneira: "Só nos primeiros minutos houve uma bola na trave, três sustos de quase parar o coração do goleiro Tibi e uma boa defesa sua. Depois, foi o domínio total no campo. E tome Júlio César parando o scratchman nacional Júlio. Ricardo Batata mandando e desmandando no meio campo e Piscina - lembrando os dribles desmoralizantes de Garrincha - matando o lateral esquerdo Gabriel - também jogador da Seleção Portuguesa".

Tuquinha fez 1x0 para o Goytacaz aos 40 minutos do primeiro tempo e Gomes empatou para o Porto aos 8 minutos do segunto tempo. Silvestre Campos Filho foi o juiz, auxiliado por Iaraí Silva e Aldemir Muniz Barreto, a renda, em noite chuvosa foi de pouco mais de Cr$ 16.000,00, e os dois times se apresentaram com estas formações:

Goytacaz - Juvenal; Julinho, Paulo Marcos, Totonho e Júlio César; Ricardo Batata, Jocimar (Albéris) e Pontixeli; Piscina, Tuquinha e Chico Maravilha;

Porto - Tibi; Múrcia, Ronaldo, Rolando e Gabriel; Leopoldo (Teixeira II), Aílton (Oliveira) e Cubillas (Rodolfo); Júlio, Gomes (Teixeira I) e Seninho.

O que poucos sabem é que o Americano já derrotou o Botafogo de 3x1, anos atrás, num amistoso realizado no Rio de Janeiro, por conta de um festival promovido pelo Bonsucesso. Esse registro foi feito no dia 27 de março de 1923, pela Folha do Comércio, de cujo texto são extraídos os seguintes detalhes:

"Nilo, o grande Nilo do futebol brasileiro, abriu o escore para o Botafogo e os jogadores do Americano se olharam meio desanimados. Mário Seixas, dentro do grande círculo, encorajou seus companheiros, gritando:

Que é, por causa de um goal? Saiu a bola e Mário, o menino de ouro dos campos campistas, apoderou-se dela, enganou Alemão e Palamone e esperou Santamaria avançar, empurrando mansamente a bola no canto do goleiro carioca, ao qual enganou também. Pouco depois, Antoninho, com um chute indefensável, desempatou, para o Americano, que logo ampliou para 3x1 com outro gol de Mário Seixas. O mesmo Mário, depois de driblar toda a defesa carioca, conquistou belissimo gol. Apertou as duas mãos para a arquibancada, mas o juiz Carlos Santos anulou o gol, sendo vaiado pela torcida. Antoninho conquistou mais um gol e China outro, punidos pelo juiz com impedimentos.

O Americano derrotou o Botafogo com esta formação: Cleveland; Dermeval e Soda; Hugo, Gama e Zurlinden; Newton, Antoninho, China, Mário Seixas e Chiquito.

Esse intercâmbio aconteceu também quando das antigas Taças Brasil que a então Confederação Brasileira de Desportos promoveu. E delas, pelo futebol campista, participaram as equipes do Rio Branco, Americano e Goytacaz.

Os jornais do lugar, pesquisados durante anos, lembram, em suas várias edições, que o Rio Branco disputou a IV Taça Brasil, entre 9 de setembro e 30 de novembro de 1962. Seu elenco, na époc, foi este: Altamir Pessanha Dias, Augusto Celso Alves de Souza, Cândido Plácido de Jesus, Eleacir Cajueiro Ernesto, Joel Gomes Machado, Jorge Ribeiro Pessanha, José Carlos de Souza Ferreira, Nilson de Azevedo Tavares, Rafael Santos da Silva, Ronaldo Cajueiro Ernesto, Salvador Ferreira e Salvador Sardinha. Nessa Taça, o Rio Branco empatou de 1x1 com o Santo Antônio em Campos e depois venceu o mesmo adversário por 2x1 em Vitória.

A seguir, o Rio Branco empatou de 1x1 com o Cruzeiro em Campos, perdendo de 1x0 para o mesmo clube em Belo Horizonte. Na VIII Taça Brasil o Americano representou o futebol campista, obtendo os seguintes resultados: 2x2 com a Desportiva em Vitória, 2x0 sobre o mesmo adversário em Campos. Depois perdeu de 2x0 para o Anápolis em Goiás, contra quem jogou duas vezes em Campos, obtendo vitórias de 2x1 e 3x2. Sua campanha se encerrou com o Cruzeiro, para quem perdeu de 4x0 em Campos e de 6x1 em Belo Horizonte.

Nessa campanha o Americano inscreveu os jogadores Adalberto da Silva Laurindo, Ailton Guimarães, Alcides Armani, Alci Fernandes de Deus, Cenilson Dias, César Carvalho de Miranda, Cidiomar Alves Custódio, Édson Carvalho Rangel, Geraldo Meireles Brás, Gessi Cordeiro de Souza, Gilberto Bernardo, João Félix da Silva, Joel Gomes Machado, José Alcino Filho, José Henriques Bernardo, Marlindo Ferreira Cardoso, Neilton de Oliveira, Oldemar Machado Rodrigues, Paulo Moacir Borges da Silva, Roberto Siqueira e Valdelino Viana.

Da IX Taça Brasil o representante campista foi o Goytacaz, que inscreveu os jogadores Adilson Sales Guimarães, Alfeu Pitno, Antônio Reinaldo da Silva Brito, Aurevaldo de Oliveira Filho, Berlito de Jesus, Carlos Augusto Barreto, Fernando Bastos, Francisco Conceição de Souza, Ipitácio Almeida, Jarbas Gonçalves Bastos, Joceir Cruz Pereira, Jorge Fernandes de Castro, José Carlos Ribeiro de Almeida, José Elias Almeida Rios, Luís Carlos Carneiro Ribeiro, Manoel Antônio Pereira, Manoel Nunes, Maurício França de Azevedo, Nilton Barreto, Nilton Macedo da Silva, Rodoval Monteiro Filho e Ronaldo Cajueiro Ernesto.

O Goytacaz venceu o Rio Branco em Campos por 1x0, derrotou o Rabelo por 3x0 e ainda em seu estádio, empatou com o Goiás de 2x2. Depois, derrotou o Rabelo por 3x1 em Brasília, empatou de 0x0 com o Goiás em Goiânia e, já classificado, foi goleado pelo Rio Branco, em Vitória, por 5x1. Sua campanha terminou diante do Atlético Mineiro, para quem perdeu de 2x1 em Campos e de 6x1 na capital mineira.

Na X Taça Brasil, o Goytacaz conseguiu este resultados: Goytacaz 0x0 Desportiva, em Vitória e Goytacaz 2x1 Desportiva, em Campos. Em seu estádio, venceu o Atlético Goianiense por 2x1, perdendo os outros dois jogos para o mesmo adversário, em Goiás, por 2x1 e 2x0. Contou com os seguintes jogadores:

Alfeu Pinto, Amaro Costa Nascimento, Aurevaldo Oliveira Filho, Berlito de Souza, Carlos Augusto Barreto, Fernando Bastos, Francisco da Conceição de Souza, Genilson Sousa da Hora, Hélio Gonçalves de Carvalho, Ipitácio Almeida, Ivaldo de Sousa, Joceir Cruz Pereira, José Carlos Ribeiro de Almeida, Jorge Carolino, Manoel Antônio Pereira, Maurício França de Azevedo, Moacir Ferreira dos Santos, Nilton Barreto, Paulo Roberto Gomes, Paulo Sérgio Ribeiro, Rafael dos Santos Silva, Ricardo Bastos, Ronaldo Cajueiro Ernesto e Sérgio Batista Primo.

Os clubes campistas também participaram dos certames estaduais promovidos pela Federação Fluminense de Desportos conquistando os títulos de Campeões Fluminense de Profissionais, embora, em alguns casos, tal título tenha sido conferido pela mentora (F.F.D.), através da simples conquista do Campeonato Campista, por ter sido esta a única competição estadual de profissionais, o que se encontrava previsto no artigo 183 das Regras Administrativas e Técnicas da F.F.D..

Assim, os títulos de 1954, 1955, 1963, 1964, 1965 e 1975, válidos pelo laurel estadual, foram conquistados em campeonatos que congregaram apenas agremiações campistas. Como se sabe, desde a implantação do profissionalismo em Campos, no ano de 1952, jamais deixou de realizar-se o Campeonato Campista de Profissionais, que foi disputado até o ano de 1977, já em pleno processo de fusão das extintas F.F.D. e F.C.F., fato este que não aconteceu nas demais zonas em que se dividiu o futebol profissional em nosso antigo Estado do Rio de Janeiro.

Autor desta página: Sidney Barbosa da Silva
Fontes: www.ururau.com.br do livro História do Futebol Campista, Editora Cátedra, 1989, de Paulo de Almeida Ourives.
Página adicionada em 28 de setembro de 2010.